Foto: Fábio Rafael
Por Roberto Beltrão
O bairro é um dos mais tradicionais do Recife. Lugar de intenso comércio
e muitas residências, tem um amigável clima suburbano, com moradores
que se conhecem e se cumprimentam todos os dias. Lá os altos prédios não
substituíram as casas com quintais amplos.
À primeira vista, ninguém é
capaz dizer que, à noite, Afogados é visitado por estranhos espíritos e
espantosas assombrações.
O nome do local já tem uma origem macabra. Segundo o pesquisdor pernambucano Leonardo Dantas Silva - no livro Arruando Pelo Recife - ali existia um afluente do Capibaribe chamado Rio dos Afogados “onde , em 17 de fevereiro de 1531, sete marinheiros da expedição de Martin Afonso de Souza vieram a perecer”.
A via mais importante do bairro é a Estrada
dos Remédios, que tem 2.423 metros e foi aberta em 1850. Na metade do
século XX, a maior parte dos habitantes de Afogados se concentrava na
Vila dos Remédios, um conjunto residencial às margens daquela estrada,
que na época era cercada de árvores sombrias.
Nessas sombras se
escondiam vultos misteriosos que provocavam tremendos sustos nos
passantes, principalmente os que seguiam de madrugada para a feira livre
realizada semanalmente na área. Eles ouviam apavorantes sussurros e
chegavam a ser perseguidos difusas aparições.
No começo da década de 60, uma assombração em particular trouxe medo à
vida dos moradores de Afogados. Era uma bela mulher, de cabelos escuros,
vestida com roupas decotadas e chamativas que caminhava sozinha pelas
ruas do bairro nas horas mortas.
Sem pudor, se insinuava para todo tipo
de homem que cruzasse o seu caminho - jovem ou velho, solteiro ou
casado, pobre ou rico. Quando o desavisado caia em seus encantos, era
levado para um beco escuro.
Ao se entregar às cariciais da moça, a
vítima descobria que estava abraçado a uma caveira! Os corajosos ainda
saíam correndo em pânico. Os covardes só eram encontrados pela manhã,
desacordados.
A mulher fantasma perpetrou tantos ataques que os homens começaram a evitar andar à noite pelas calçadas do bairro. Mas alguns, lamentavelmente, não podiam evitar correr esse risco. Ficou famoso o caso de um senhor de seus cinquenta e poucos anos que teve um encontro nada agradável com a fêmea espectral.
Ele era civil, mas trabalhava como
motorista numa instalação militar. As horas extras eram frequentes e,
depois dessas jornadas de trabalho esticadas, voltava para casa com
passos apressados.
Numa dessas noites, quando Afogados estava coberto por um manto de
silêncio e trevas, o motorista seguia seu trajeto costumeiro e percebeu
que a tal mulher o espreitava numa esquina. Ele fingiu que não viu e
procurou andar mais rápido.
Mas a assombração foi em seu encalço e, por
mais que o sujeito acelerasse, ela se aproximava com passadas leves e
ligeiras que só uma alma penada pode dar. O pobre homem chegou
esbaforido ao portão de casa, mas aliviado por achar que estava em
segurança.
Puro engano. Ele tinha atravessado o jardim e tentava, com as mão
trêmulas, achar a chave para abrir a porta da frente, quando percebeu
que a mulher também tinha chegado ao portão. Ela o atravessou sem
precisar abri-lo e veio rebolando em direção ao apavorado motorista que,
a essa altura, já tinha deixado o chaveiro cair no chão.
Ficou a poucos
centímetros do coitado e revelou uma face de caveira. A transformação
veio acompanhada de um nauseante odor de cadáver. O motorista soltou um
grito e desmaiou. Foi socorrido pela esposa que logo suspeitou de um
ataque cardíaco.
O problema dele era outro: pavor inominável. O homem
não foi o mesmo depois desse episódio. Tornou-se meio acabrunhado,
desconfiado de tudo e sempre temeroso de sair de casa à noite.
Na Década de 60, os moradores de Afogados atribuíam as constantes
aparições de fantasmas a uma suposta profanação cometida no local.
Corria um boato de que o mercado público do bairro, um dos mais
movimentados do Recife, tinha sido construído sobre um antigo cemitério
(talvez aquele onde foram enterrados os tripulantes mortos na expedição
de Martin Afonso de Souza).
A hipótese nunca foi comprovada, mas também
não foi desmentida. O fato é que quem passava por perto do mercado
sentia um cheiro de coisa podre que nem o mais poderoso detergente
conseguia eliminar do prédio.
Ainda segundo alguns habitantes do lugar, esse desrespeito aos mortos facilitava o aparecimento de espíritos zombeteiros como o “Zé Pilintra”, entidade identificada nas rodas de magia africana.
Os rapazes que
voltavam de festas à noite costumavam se deparar com essa figura: chapéu
na cabeça, roupa branca, jeito de malandro. Quando se aproximava do
grupo, soltava uma estridente gargalhada. Não ficava um sujeito de
coragem para contar o resto da história.
Fonte: Histórias Medonhas
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