sábado, 15 de junho de 2013

Arqueólogo descobre 250 ossadas durante escavação em Santos, SP

Cemitério é estudado por arqueólogo em torno da Igreja do Valongo (Foto: Anna Gabriela Ribeiro/G1)
 
 
Estudioso luta para que obras do VLT não passem pelo local. Cemitério secular foi descoberto perto da Igreja do Valongo.
 
 
  Um cemitério secular foi descoberto após escavações em torno da Igreja do Valongo, em Santos, no litoral de São Paulo.


O trabalho, coordenado pelo arqueólogo Manoel Gonzalez, faz parte do projeto Gestão do Patrimônio Histórico e Arqueológico do Convento do Valongo, que visa resgatar a história e dados da sociedade.



Porém, o projeto sofre um impasse, já que as obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) devem passar pelo local e, segundo Manoel, podem prejudicar o estudo.



O arqueólogo explica que o trabalho começou há cerca de três meses, e em torno da igreja do Valongo foram descobertos, até o momento, cerca de 250 corpos humanos.


“Na igreja do Valongo nós temos sepultamentos desde 1730 até o século XIX. Sabemos disso por meio de um livro de registro, que diz o nome das pessoas que foram enterradas, quando, do que morreu e idade. Para nós é uma informação relevante e interessante para contar nossa história. Conseguimos saber a estimativa de vida dessas pessoas, as doenças que existiam e, por meio dos ossos, tentar descobrir do que se alimentavam, o desgaste dentário, até doenças articulares. São informações extremamente relevantes para a nossa história”, conta Gonzalez.


A descoberta dos ossos não foi uma surpresa para Manoel Gonzalez e sua equipe. “Fizemos prospecções ao redor da igreja, onde já sabíamos que existia um cemitério. Antigamente, em todas as igrejas do Brasil existiam os sepultamentos. Tanto dentro das igrejas quanto em volta. No século XIX, para eles, isso era algo sagrado. Algumas pessoas pagaram até 100 mil réis para serem enterradas aqui, porque no registro está descrita a quantia doada para a igreja. Quanto mais próximo do altar mais perto de Deus”, conta.



Mais do que resgatar a origem destas pessoas, o arqueólogo vê o trabalho como algo benéfico para a sociedade atual.



“Acho que é um resgate dessa informação. Nós somos carentes dessa coisa material, que a arqueologia estuda. Acho que a preservação desses sítios é importante para a população. Tentar identificar sua própria cultura e seu próprio antepassado”, afirma Gonzalez.



O que preocupa o estudioso é que, em breve, obras do VLT passarão pelo entorno da Igreja do Valongo.


“O grande trabalho é fazer a preservação desse cemitério. Vai passar obra do VLT aqui, que é um problema que nós estamos estimando, porque os ossos estão há 40 centímetros do chão. Nós sabemos que o VLT chega a 50 cm, então possivelmente vai destruir todo o cemitério. Não vejo isso com bons olhos, acho que essas pessoas têm que ser mantidas no lugar onde estão”, diz.



O arqueólogo afirma que pretende continuar com os estudos, mas ressalta que não é contra a implantação do VLT.


“Nós participamos de palestras da EMTU, pedimos para que fosse alterado o trajeto, mas é uma coisa complicada. Se depender de mim vou fazer o meu trabalho no ritmo que tem que ser feito, porque não vou deixar de fazer o registro arqueológico por conta de obras. Não sou contra o desenvolvimento da cidade. A cidade tem que se desenvolver de várias formas. Ao meu ponto de vista devia mudar o trajeto, ficaria muito mais fácil para contornar os sítios arqueológicos, o patrimônio. Já dei todas as informações possíveis ao Ministério Público e tenho certeza que vão adotar as medidas cabíveis para preservação do patrimônio. Eles sabem da importância histórica e arqueológica que nós temos e o que vai trazer de valor para nossa sociedade”, finaliza Gonzalez.





 Fonte: G1

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